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Interdição de dragas no Rio Parnaíba: Trabalho precário, riscos à vida e irregularidades criminosas na extração de areia

Em uma operação conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), diversas dragas de sucção foram interditadas nos municípios de Luzilândia e Joca Marques, no Piauí, após uma inspeção que revelou gravíssimas irregularidades que colocavam em risco iminente a vida dos trabalhadores. As dragas estavam sendo usadas para a extração de areia lavada do leito do rio Parnaíba, material essencial para a construção civil, mas com práticas extremamente precárias e perigosas. O descaso era evidente, e a situação tornou-se um exemplo claro de exploração e negligência nas condições de trabalho.

Riscos criminosos e descaso com vidas humanas

Durante a fiscalização, o que as equipes encontraram foi estarrecedor. Trabalhadores, sem qualquer treinamento ou capacitação, eram forçados a mergulhar nas profundezas do rio, vestindo apenas roupas pessoais — como calções e camisetas — e respirando por uma simples mangueira de ar comprimido, que ficava diretamente presa em suas bocas. Essa mangueira era conectada a um compressor de ar alimentado pelo motor da própria draga. Para piorar, a tomada de ar estava posicionada próxima à descarga da máquina, expondo os mergulhadores ao risco de inalar gases tóxicos. Em muitos casos, os trabalhadores mergulhavam a profundidades superiores a oito metros e permaneciam submersos por horas a fio.

O procurador do Trabalho, Edno Moura, descreveu as condições como “bárbaras”, ressaltando que a atividade de mergulho era feita sem qualquer padrão de segurança ou proteção. “Os mergulhadores trabalhavam com um sistema improvisado e absolutamente inseguro. A exposição a gases tóxicos e o risco de afogamento ou acidentes com as partes móveis das dragas eram constantes”, afirmou Moura.

A falta de segurança: um abismo de negligência

A situação, além de criminosa, revelava um desdém total pelas vidas dos trabalhadores. Não havia coletes salva-vidas suficientes, os trabalhadores não possuíam qualquer vínculo formal de emprego — ou seja, não tinham carteira assinada — e, portanto, estavam completamente desprotegidos perante a legislação trabalhista. Mesmo cumprindo uma jornada de trabalho regular, de segunda a sábado, eles não recebiam salários dignos. O pagamento pelos mergulhos perigosos? Apenas R$ 50 por imersão, uma quantia irrisória frente ao risco de morte a que eram submetidos.

O auditor-fiscal do MTE, Robson Waldeck Silva, destacou a total falta de condições de segurança, relatando que o acesso às dragas era feito por pequenos barcos sem qualquer equipamento de proteção ou normas de segurança. “Esses trabalhadores não tinham a menor noção do perigo que corriam. Eles estavam aspirando gases tóxicos e correndo riscos mortais, sem sequer saberem que estavam trabalhando de forma ilegal e perigosa.”

Trabalho sem direitos, exploração desumana

A fiscalização também revelou outro lado trágico da exploração: a maioria dos trabalhadores desconhecia seus direitos e a situação de ilegalidade em que se encontravam. Sem contratos formais de trabalho, eles estavam desamparados. Em caso de acidentes, não teriam direito a benefícios como licença médica ou aposentadoria. Para muitos, esse trabalho insalubre era a única opção de sustento, levando-os a aceitar condições de trabalho degradantes em troca de uma renda mínima para sobreviver.

O procurador Edno Moura lamentou a situação, destacando que os trabalhadores estavam “desassistidos e vulneráveis”. Ele também alertou que, sem registros formais, em caso de acidentes fatais, as famílias dessas vítimas sequer teriam acesso a direitos previdenciários.

Consequências e medidas legais

Diante das gravíssimas violações, o MPT e o MTE decidiram pela imediata interdição das dragas de sucção. Relatórios foram lavrados, e o MPT já anunciou que tomará medidas legais contra os responsáveis, que podem incluir Termos de Ajuste de Conduta (TAC) e ações judiciais para cobrança de indenizações por danos morais coletivos. A fiscalização da Marinha do Brasil também deu suporte às operações, reforçando o peso das irregularidades constatadas.

Este caso serve como um alerta urgente para as autoridades e para a sociedade: a extração de recursos naturais, sem a devida fiscalização e em condições de trabalho precárias, é não apenas um crime ambiental, mas também uma afronta à dignidade humana. O lucro a qualquer custo tem levado à exploração de trabalhadores em situações que beiram a escravidão moderna, e a atuação das autoridades, como o MPT e o MTE, é essencial para frear essas práticas criminosas.