Crise no Hospital São Marcos: falta de insumos suspende tratamentos oncológicos em Teresina
Pacientes em tratamento contra o câncer no Hospital São Marcos, referência em oncologia no Piauí, denunciam a interrupção de procedimentos essenciais devido à falta de insumos. A situação tem gerado desespero entre os familiares, que temem pelo agravamento das doenças diante da suspensão de terapias vitais.
Um dos casos envolve um paciente com glioblastoma selvagem, um tipo agressivo de tumor cerebral. Segundo os familiares, o tratamento foi abruptamente interrompido. “Fomos pegos de surpresa. É inaceitável que vidas fiquem em risco por conta de atrasos administrativos. Estamos falando de tratamentos que não podem esperar!”, desabafa um dos parentes, indignado.
O Hospital São Marcos confirmou a gravidade do cenário e, em nota, declarou estar enfrentando uma crise de financiamento, motivada por um atraso de 19 meses nos repasses contratuais da Prefeitura de Teresina. A instituição afirma que, diante do esgotamento de recursos, foi forçada a interromper parte dos atendimentos oncológicos por falta absoluta de medicamentos.
De acordo com o hospital, apenas neste ano foram realizadas mais de 18 mil consultas em oncologia, 11 mil sessões de quimioterapia, 850 cirurgias oncológicas de alta complexidade, além de centenas de internações. Atualmente, mais de mil pacientes estão com seus tratamentos atrasados.
“O Hospital São Marcos segue pronto para continuar atendendo, mas precisa de condições mínimas para isso. Estamos abertos ao diálogo e à construção de uma saída conjunta e urgente com a Prefeitura”, afirmou o diretor técnico Dr. Marcelo Martins, em entrevista à imprensa.
Contraponto da FMS
A Fundação Municipal de Saúde (FMS) rebateu as acusações e divulgou uma nota informando que já repassou mais de R$ 32 milhões ao hospital só em 2025. A fundação também afirma que, desde o ano passado, o Governo do Estado repassa mensalmente R$ 900 mil como complementação da tabela SUS.
A FMS apontou ainda a existência de uma dívida de R$ 31 milhões do Hospital São Marcos com a própria fundação, relacionada a descontos indevidos de empréstimos consignados feitos junto a instituições financeiras, o que teria impactado negativamente o orçamento da saúde municipal. A fundação estuda realizar uma auditoria financeira para verificar a real situação orçamentária da unidade hospitalar.
Além dos repasses diretos, o hospital também conta com incentivos de renúncia fiscal e receitas oriundas de atendimentos particulares e convênios com planos de saúde.
Caminhos para uma solução
Diante da crise instalada, a gestão municipal de Teresina afirmou ter buscado apoio do Governo Federal, mas ainda aguarda resposta concreta. A FMS garantiu estar comprometida com a continuidade dos serviços e com a busca de uma solução transparente e responsável para garantir o atendimento de qualidade à população oncológica.
Enquanto o impasse entre hospital e poder público não se resolve, pacientes e familiares seguem apreensivos, aguardando o restabelecimento dos tratamentos que, para muitos, representam a única esperança de cura ou controle da doença.