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Brasil está entre os 10 países com mais gastos no funcionalismo público

Um levantamento da Secretaria do Tesouro Nacional a partir de informações do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra que, entre 74 países, o Brasil tem a nona maior despesa com funcionalismo público. A pesquisa, com dados de 2019, considera a proporção dos gastos com servidores ativos em relação ao PIB e inclui o pagamento da folha nos níveis federal, estadual e municipal, além dos benefícios pagos pela administração pública para o sistema previdenciário.

Conforme painel do Tesouro, o Estado brasileiro pagou a servidores públicos o equivalente a 12,9% de seu PIB naquele ano. Em relação aos países do G20 – grupo das maiores economias do mundo –, o Brasil aparece na terceira colocação, atrás apenas de Arábia Saudita (17,1%) e África do Sul (15,2%), e bem à frente de economias mais avançadas como Estados Unidos (8,7%) e Japão (5,2%) – dados da China não estão disponíveis.

Gasto de países com remuneração de empregados em 2019 (em % do PIB)
País Porcentual

  • Kiribati 30,8%
  • Arábia Saudita 17,1%
  • África do Sul 15,2%
  • Dinamarca 15,1%
  • Noruega 14,9%
  • Islândia 14,4%
  • Timor-Leste 13,1%
  • Samoa 13,1%
  • Brasil 12,9%
  • Costa Rica 12,8%
  • Suécia 12,6%
  • Chipre 12,3%
  • Canadá 12,1%
  • Finlândia 12,0%
  • Bélgica 11,9%
  • Croácia 11,9%
  • San Marino 11,9%
  • França 11,8%
  • Quirguistão 11,5%
  • Eslovênia 11,4%
  • Grécia 11,3%
  • Estónia 11,1%
  • Malta 10,9%
  • Bósnia e Herzegovina 10,8%
  • Letônia 10,7%
  • El Salvador 10,7%
  • Áustria 10,5%
  • Bulgária 10,4%
  • Bielorrússia 10,4%
  • Espanha 10,4%
  • Polónia 10,4%
  • Portugal 10,4%
  • Sérvia 10,2%
  • Hungria 10,1%
  • Lituânia 10,1%
  • Ucrânia 10,0%
  • Israel 9,9%
  • Eslováquia 9,9%
  • Luxemburgo 9,7%
  • Austrália 9,5%
  • Chéquia 9,5%
  • Itália 9,4%
  • Rússia 9,4%
  • Reino Unido 9,0%
  • Nepal 8,9%
  • Maurícia 8,8%
  • Quênia 8,7%
  • Turquia 8,7%
  • Estados Unidos 8,7%
  • Paraguai 8,6%
  • Nova Zelândia 8,5%
  • Uzbequistão 8,0%
  • Países Baixos 7,9%
  • Alemanha 7,6%
  • Suíça 7,5%
  • Moldávia 7,4%
  • Chile 7,1%
  • Emirados Árabes Unidos 7,0%
  • Albânia 6,9%
  • Peru 6,8%
  • Irlanda 6,5%
  • Macedônia do Norte 6,4%
  • Coreia do Sul 6,3%
  • Colômbia 5,7%
  • Tailândia 5,7%
  • Ruanda 5,5%
  • Costa do Marfim 5,2%
  • Japão 5,2%
  • Armênia 5,0%
  • Indonésia 4,9%
  • Azerbaijão 4,1%
  • Uganda 4,0%
  • Geórgia 3,6%
  • Mianmar 3,5%
  • Singapura 3,5%
  • Cazaquistão 2,9%

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional

Para a economista Vilma da Conceição Pinto, pesquisadora licenciada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a comparação do indicador no cenário internacional é importante para a verificação de eventuais pontos de excesso.

“Porém é importante frisar que o gasto é uma função que depende tanto da quantidade de servidores quanto do valor pago a esses servidores”, ressalta. “Outro detalhe é que esse número contempla servidores ativos, inativos e pensionistas. Assim, fatores como demografia, por exemplo, também tendem a afetar esses valores.”

Um estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), com base em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de 2018, mostra que a proporção de funcionários públicos em relação à população era de cerca de 12,5% naquele ano. A proporção está bem abaixo da média dos países da OCDE, que era de 21,1%.

Em termos de quadro de pessoal, portanto, o Estado brasileiro não é necessariamente “inchado”. O dinheiro destinado aos salários e aposentadorias é que está acima da média.

A situação mantém-se como a observada em 2017 em um relatório do Banco Mundial. “A combinação de alto gasto com pessoal, como proporção do PIB, e moderada proporção de servidores públicos, como proporção do emprego, sugere uma situação em que os servidores públicos brasileiros têm altos salários, quando comparados com os dos outros países”, diz o documento.

Segundo o Banco Mundial, um servidor público brasileiro recebe, em média, 19% mais do que trabalhadores do setor privado com função e escolaridade semelhantes. A essa diferença, a entidade dá o nome de “prêmio salarial”. Embora o porcentual esteja linha com a média uma amostra de 53 países, que é de 21%, há grandes diferenças entre as diversas categorias do funcionalismo brasileiro de acordo com a esfera e o Poder em que atuam. O indicador chega a 96% no âmbito federal, e a 36%, no nível estadual, enquanto que não há prêmio salarial no funcionalismo municipal.

Entre os poderes, a média salarial dos servidores do Judiciário chega a R$ 15,2 mil, enquanto no executivo municipal, fica em R$ 2,9 mil, segundo o Atlas do Estado Brasileiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também com dados de 2019.

“Fazendo um paralelo com a reforma administrativa, é importante que o governo busque a melhor forma de alocar seus recursos e de prover serviços públicos para a sociedade. Uma realidade é a diferença salarial entre o público e privado, que em excesso pode gerar distorções”, diz a pesquisadora licenciada do Ibre.

Aprovada em maio pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, a proposta de reforma administrativa do governo federal é tratada como necessária para a reduzir essa diferença de remuneração entre empregados do setor público e do privado.

O texto sofre críticas, no entanto, porque não inclui membros dos Poderes, como parlamentares, magistrados, promotores e procuradores, além de militares. A explicação do Ministério da Economia é que o Executivo não pode definir normas específicas para os poderes Legislativo e Judiciário.

Enquanto se discute a reforma, uma portaria do Ministério da Economia passou a autorizar que militares da reserva e servidores civis aposentados que continuam exercendo determinados cargos recebam tanto os salários quanto as aposentadorias, mesmo que ultrapassem o teto de R$ 39,2 mil. Entre os beneficiados pela medida estão o presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton.

 

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