“As pessoas pensam que estou rico, mas não estou. Ainda vou me tornar rico”, diz Charles do Bronx
Charles do Bronx é o novo campeão peso-leve do UFC. É também o maior vencedor por finalizações na história da organização, assim como o que mais lutas finalizou sem deixar com os juízes. De quebra, é o segundo na história com mais bônus somados, chegando a quase US$ 1 milhão apenas com premiações extras. Estamos falando então de um lutador rico? O lutador nascido no Guarujá-SP garante que não.
Na participação que fez nesta semana no podcast Mundo da Luta #139, o lutador de 31 apenas – quase 11 deles dentro do UFC -, explicou que os números divulgados não mostram a realidade. Apesar de garantir que leva uma vida confortável hoje, Do Bronx diz que ainda precisa se preocupar com a vida financeira, mas já vislumbra um conforto maior agora que é campeão.
– Quando vai ver no final de tudo, ganhou não US$ 50 mil, ganhou US$ 15 mil, US$ 20 mil. Sem contar que a gente mora no Brasil, então tenho que passar o meu dinheiro de lá (dos EUA) para cá, já tem mais taxa. Quando chega aqui, tenho que pagar treinador, suplementação, é complicado… As pessoas pensam que estou rico, mas não estou. Ainda vou me tornar rico, vou ganhar dinheiro com pay-per-view, cheguei num patamar onde começo a ganhar dinheiro. As coisas vão começar a melhorar, mais do que já estão boas.
O que faz Charles do Bronx parecer um lutador rico são as conquistas de bônus por performance a cada evento. Ele já conquistou a bonificação por 17 vezes, variando valores entre US$ 40 mil e US$ 75 mil. Somadas as premiações, o valor bruto chega a US$ 970 mil. Só que é aí que entram os descontos de impostos e as partes de outros envolvidos.
– Todo mundo fala: você ganhou vários bônus de US$ 50 mil. Realmente, ganhei vários bônus de US$ 50 mil, mas você sabe o quanto de desconto acontece? Só para a equipe você paga 30%. Aí você tem mais 12% ou 15% (de desconto) a depender do estado (americano) onde luta. Você tem mais porcentagem de não sei o quê, não sei de onde… Quando você vai ver no final, recebeu menos que os caras que não fizeram nada. Não ganhei 17 bônus de US$ 50 mil, ganhei 17 bônus onde ganhei US$ 15 mil, US$ 12 mil, US$ 10 mil… Hoje o Charles é rico? Não, sou bem de vida. Tenho uma vida melhor do que eu tinha. Tenho um carro? Tenho, mas tenho um talão desse tamanho para pagar todo mês. Tenho uma moto? Tenho, mas tenho um talão para pagar todo mês. O que propus para a minha vida foi ter tudo do bom e do melhor que eu possa ter, porque a gente não sabe o dia de amanhã, e realizar os meus sonhos. E ir pagando as minhas coisas devagar. Se eu ficar seis, sete meses sem lutar, já começo a me apertar. Saiu uma matéria dizendo que ganhei novecentos e tantos mil dólares, e falei: estou sendo roubado, que esse dinheiro não chegou para mim.
Conor McGregor ou Dustin Poirier?
Após se tornar o novo campeão peso-leve (até 70,3kg) do UFC, Charles do Bronx agora já se depara com o próximo passo: quem enfrentar? A tendência é que o rival saia do UFC 264, no dia 10 de julho, quando Dustin Poirier e Conor McGregor atingem uma trilogia entre eles, que tem até aqui uma vitória para cada lado. O brasileiro garante não ter preferência, mas sabe que o irlandês é a luta do dinheiro.
– Para mim é indiferente, de verdade. Sempre lutei no UFC sem pensar em dinheiro, mas pensando em fazer história. Lógico, lutando com o Conor é muito dinheiro que vai vir, seria muito bom isso, dinheiro é sempre bom, mas não estou preocupado com quem vai vir ou deixar de vir. Quero continuar fazendo essa história, continuar vivendo esse momento maravilhoso, e estar pronto para qualquer um dos dois que venha. O Dustin é um cara duríssimo, o último que nocauteou o Conor, mas a gente também sabe que o Conor não é um cara bobo, e deve vir com uma estratégia completamente diferente para essa luta. Que vença o melhor, e se for melhor o Conor, que venha o Conor, a gente vai ganhar dinheiro e vamos bater nele. Se for o Dustin, a gente vai ganhar menos dinheiro, mas vamos continuar vencendo. O mais importante é vencer.
Charles também admitiu que teve uma sensação boa ao ser informado durante a coletiva após o UFC 262, em Houston, que Conor o tinha provocado nas redes sociais. Chegou a hora de ser citado pelos grandes adversários, depois de tanto pedi-los e ninguém ouvir até então.
– Pedi durante anos esses caras, e eles nunca cogitaram o meu nome. O sorriso foi irônico: “então quer dizer que agora vocês sabem quem eu sou? Vocês estão me notando?” Estou feliz demais com tudo o que vem acontecendo, é bom saber que eles estão olhando, e é bom saber também que me respeitam. Eles pensavam que eu era um cara só do jiu-jítsu, e hoje venho nocauteando. Se eles estão falando, é porque estão me notando, estão vendo o quanto estou evoluindo. O Conor tinha que soltar a gracinha dele querendo lutar, mas é como falei, tem que se preocupar primeiro em vencer o Dustin Poirier, que não é fácil, para depois pensar em vir lutar comigo.
E o “fantasma” Khabib Nurmagomedov? O russo, que renunciou ao título em outubro de 2020 após três defesas de título e um cartel invicto com 29 vitórias, é sempre citado quando o assunto é a divisão até 70,3kg. Charles não deixou de dar seu recado.
– Todo mundo gostaria de ver Charles x Khabib, mas a gente tem que respeitar demais o Khabib pela história que ele fez, são 29-0. É um cara que fez o trampo acontecer. Com todos os caras que ele lutou, ele bateu. Não se pode falar que varreu a categoria porque ele não lutou com todos, mas com os que ele lutou, foi lá e bateu. Se aposentou porque perdeu o pai, merece todo respeito do mundo. Mas é uma nova era, um novo legado, a era Charles Oliveira. Não importa o quanto as pessoas vão falar ou deixar de falar, não tem mais o Khabib, ele parou, se aposentou, ele escolheu isso, e começou o legado Charles Oliveira.