Economia: Sul deve passar Nordeste e retomar 2.º lugar
Ainda vivendo os efeitos da pandemia do novo coronavírus, o Brasil deve ver o consumo das famílias movimentar este ano cerca de R$ 5,1 trilhões, o que representa um aumento de 3,7% em relação ao ano passado. A estimativa é do estudo IPC Maps 2021, que se baseia em dados oficiais do Banco Central e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além da retomada do crescimento, a principal novidade apresentada pelo estudo é o retorno da Região Sul à vice-liderança nacional do consumo das famílias, após 13 anos na terceira colocação. O Nordeste, mais dependente do turismo – um dos setores mais afetados pela pandemia de coronavírus – e de programas sociais, cairá para o terceiro lugar, segundo as projeções do IPC Maps.
Consumo das famílias deve retornar ao patamar de 2019, antes da pandemia
O patamar de consumo das famílias esperado para 2021 é equivalente, descontada a inflação, ao observado em 2019, antes do surgimento da Covid-19.
“Esse ganho compensa as perdas que tivemos no ano passado e efetivamente é uma tendência de crescimento – não é ficar estagnado ou ter crescimento negativo menor”, diz Marcos Pazzini, responsável pelo levantamento.
“A economia começa a voltar aos trilhos. Apesar do cenário de pandemia e da vacinação que acontece a duras penas, o mercado consumidor está reagindo de forma bastante satisfatória”, afirma.
Pazzini avalia que as famílias adaptaram seu comportamento ao momento de crise sanitária. “O ano passado foi um choque, tanto para os varejistas quanto para o consumidor, mas foi uma escola. O comércio já desenvolveu uma oferta facilitada de produtos na internet, por exemplo, e as pessoas aprenderam a consumir desse jeito.”
Sul volta à vice-liderança do ranking de consumo
A pesquisa mostra ainda que mercados já consolidados e onde há desenvolvimento do setor produtivo tendem a reagir mais rapidamente em momentos de crise do que os menores ou fora dos grandes centros.
Conforme as projeções, após 13 anos, o Sul deve retomar a vice-liderança no ranking de consumo entre as regiões brasileiras, à frente do Nordeste, que concentra o segundo maior mercado consumidor em termos populacionais.
“O Nordeste tem um potencial muito grande, mas depende muito de programas sociais e também do turismo, que está muito comprometido. O agronegócio e as indústrias fazem o Sul depender mais das próprias pernas”, diz Pazzini.
Conforme o estudo, os estados sulistas devem responder por 18,2% do consumo no país neste ano, enquanto a participação do Nordeste deve ficar em 17,5%. Estima-se que o Sudeste representará 49,4% dos gastos nacionais, enquanto o Centro-Oeste fará 9% do consumo do país em 2021. Em último lugar fica o Norte, que deve abranger 6,1% do cenário consumidor atual.
Perfil do público consumidor
A atual edição do IPC Maps aponta, ainda, uma maior participação das classes D e E no mercado consumidor. Isso se deve a uma redução na quantidade de domicílios das classes C1 e C2, o que elevará o número de residências nos demais estratos sociais.
“A migração de domicílios dessas duas classes impactará positivamente o consumo dos grupos D e E, com uma vantagem de 15,5% sobre os valores de 2020”, explica. Os estratos A, B1, B2 e C2, por sua vez, terão crescimento abaixo da média.
Assim como no ano passado, as classes B1 e B2, que compreendem 21,3% dos domicílios, devem liderar o cenário de consumo, respondendo por mais R$ 1,866 trilhão dos gastos, o que corresponde a 39,6% da estimativa global.
As classes C1 e C2, presentes em quase metade das residências (47,9%), devem gastar R$ 1,752 trilhão (37,2%).
O grupo D/E, que ocupa 28,6% das moradias, deve consumir R$ 505,8 bilhões (10,7%), conforme as projeções.
A classe A, que abrange 2,2% das famílias brasileiras, tem seus gastos estimados em R$ 587,5 bilhões (12,5%).
Dos 213,3 milhões de cidadãos, segundo estimativa do IBGE, 180,9 milhões moram em área urbana, respondendo pelo consumo per capita de R$ 26.042,02, contra R$ 11.245,8 gastos individualmente pela população rural.
O levantamento detalha, ainda, as preferências dos consumidores na hora de gastar sua renda:
- 25,76% dos desembolsos destinam-se à habitação (incluindo aluguéis, impostos, luz, água e gás);
- 17,96% – outras despesas (serviços em geral, reformas, seguros etc.);
- 14,11% – alimentação (no domicílio e fora);
- 13,06% – transportes e veículo próprio;
- 6,66% – medicamentos e saúde;
- 3,71% – materiais de construção;
- 3,46% – educação;
- 3,43% – vestuário e calçados;
- 3,29% – recreação, cultura e viagens;
- 3,29% – higiene pessoal;
- 1,52% – móveis e artigos do lar;
- 1,49% – eletroeletrônicos;
- 1,1% – bebidas;
- 0,53% – artigos de limpeza;
- 0,45% – fumo; e
- 0,17% – joias, bijuterias e armarinhos.
A retomada da economia se reflete ainda na possibilidade de incremento em 9,4% de empresas instaladas no Brasil, totalizando 22.327.228 unidades.
Deste montante, quase a metade (12,1 milhões) tem atividades relacionadas a serviços; seguida pelos setores de comércio, com 5,9 milhões; indústria, 3,6 milhões; e, por fim, agronegócio, com 720 mil estabelecimentos.