Eleições 2022: PSD projeta Rodrigo Pacheco como “novo JK”
O PSD opera para se viabilizar como alternativa de uma “terceira via” para as eleições de 2022. Ciente das dificuldades do centro em viabilizar uma candidatura única, o presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, mira no presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), com um projeto inspirado na trajetória de Juscelino Kubitschek (JK).
Pacheco preza pela discrição e tem negado nos bastidores a intenção em disputar a corrida presidencial. Mas os sinais dados até o momento vêm gerando ruídos e rumores no Senado que tornam cada vez mais difíceis as tentativas de Pacheco em desconversar uma desfiliação do DEM.
Em 12 de junho, Pacheco e Kassab jantaram com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), que recentemente se desfiliou do DEM. Depois, em São Paulo, no mesmo fim de semana, se reuniram com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e Michel Temer (MDB), em encontros separados.
A leitura feita no Senado é que será uma questão de tempo até que Pacheco seja seduzido por Kassab. Alguns senadores até entendem que, mesmo negando, o presidente da Casa gosta da ideia de ser apontado como um presidenciável. Gestos não têm faltado. Na terça-feira (15), promoveu uma solenidade em homenagem aos 90 anos do ex-presidente José Sarney (MDB).
Líder do PSD confirma conversas e articulações entre Kassab e Pacheco
O líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (MS), confirma as conversas entre Kassab e Pacheco, bem como as articulações com os ex-presidentes da República. À Gazeta do Povo, ele destaca, ainda, que uma possível filiação do presidente do Senado faz parte de um projeto maior do partido em ampliar sua expansão nacional.
“Qualquer partido gostaria de um quadro como o senador Rodrigo Pacheco em suas fileiras, e o PSD não poderia ser diferente”, diz. “Nós entendemos que uma candidatura de centro deve ser construída e essa candidatura passa por alguém que possa ter equilíbrio, credibilidade, moderação, sensatez, que seja de um estado que tenha densidade eleitoral, e a hora que a gente foi avaliando quem poderia ser, chegamos ao nome do presidente Rodrigo Pacheco”, acrescenta.
Trad enaltece uma possível filiação de Pacheco como alternativa por uma “terceira via” contra as candidaturas do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A candidatura de centro precisa ser construída. A gente vê que o Lula reza para o Bolsonaro [chegar ao segundo turno] e o Bolsonaro reza para o Lula. Um precisa do outro para chegar lá, mas, se vier um candidato de centro e for com um deles [ao segundo turno], vira presidente do Brasil”, diz.
O líder do PSD confirma não apenas as conversas entre Pacheco e Kassab, mas, também, as articulações com Temer, FHC e Paes. “[Essas conversas] estão ocorrendo com frequência, até para construir esse projeto, tanto com o [ex-]presidente Fernando Henrique, Michel Temer, quanto com o prefeito do Rio”, afirma.
Trad também diz que, no Espírito Santos, ambos conversam com o ex-governador Paulo Hartung (Sem partido), que comandou o estado capixaba em três mandatos. “Se for ver, [o PSD] está botando peça-chave em cada estado forte e que acaba dando condições para um candidato prosperar em um ambiente de eleição majoritária nacional”, destaca.
Com Pacheco, PSD projeta expansão em âmbito nacional
O projeto político do PSD para 2022 não se limita em lançar a candidatura de Rodrigo Pacheco à Presidência da República. A real expectativa é que ele seja um importante cabo eleitoral de uma expansão nacional. As conversas com Hartung, por exemplo, seguem no sentido de costurar uma nova candidatura do capixaba ao governo estadual.
Além do Espírito Santo, o PSD mira, ao menos, outros cinco estados: São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “Vou te revelar. Em São Paulo, estamos na iminência de trazer o [ex-governador] Geraldo Alckmin (PSDB). No Espírito Santo, Paulo Hartung. No Rio Grande do Sul, a [ex-senadora] Ana Amélia (PP). E no Mato Grosso, o [governador] Mauro Mendes (DEM)”, afirma.
Em Minas Gerais, o candidato da legenda será o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que confirmou sua pré-candidatura em junho. Em Mato Grosso do Sul, a tendência é que seja o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), irmão de Nelsinho. “Temos alguns quadros nacionais muito interessantes em outros estados”, destaca o líder do partido no Senado.
No Paraná, o governador Ratinho Júnior (PSD), vai tentar a reeleição. Em Sergipe, onde o governador Belivaldo Chagas (PSD) foi reeleito, o nome do deputado Fábio Metidieri (PSD-SE) aparece como hipótese de sucessão pelo atual grupo político. Trad também confirma que o deputado Rodrigo Maia (Sem partido-RJ) deve se filiar à legenda. “Ele é do grupo do prefeito Eduardo Paes”, afirma.
Além de todas as possíveis filiações, O PSD tem a expectativa de manter seu poderio na Câmara e no Senado. “Somos o segundo maior no Senado, temos 11 senadores, em quase todas as regiões. Na Bahia, dois dos três são nossos. Na Câmara, somos o quarto maior. É o partido que faz por onde merecer a tentativa de atrair quadros realmente de peso como o presidente Pacheco”, diz.
Como as articulações de Pacheco e Kassab podem levar a uma candidatura
O gesto feito por Pacheco a Sarney, bem como a reunião com FHC e Temer, têm um simbolismo importante. Se o presidente do Senado e o PSD, de fato, se unirem mais a frente, ter apoio de três caciques da política nacional será imprescindível para as aspirações de uma potencial candidatura.
Para 2022, o PSDB de FHC está dividido entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. O senador Tasso Jereissati (CE), membro da CPI da Covid, chegou a ser apontado como candidato, mas, hoje, aparece fora da disputa. A leitura feita no PSD é que a divisão interna entre os tucanos e a pouca viabilidade dos nomes postos podem fortalecer Pacheco.
Já os acenos feitos ao MDB de Sarney e Temer são tão importantes quanto evitar uma candidatura tucana. Não apenas devido ao partido ter sido o grande vencedor das eleições municipais e ter ampliado sua capilaridade nacional, mas, também, pela “traição” de Pacheco ao MDB em 2017.
Na última legislatura, quando era presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), entregou a relatoria de uma das denúncias contra Temer, seu então correligionário, para o deputado Sérgio Zveiter (MDB-RJ), que apresentou parecer favorável à admissibilidade pelo crime de corrupção passiva.
O episódio repercutiu mal dentro do MDB. Emedebistas classificaram como “traição” e o desconforto criado levou Pacheco a se filiar ao DEM, a convite do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara. A atual reconciliação com Temer é vista, portanto, como uma costura estratégica. “Está seguindo a linguagem mineira de conciliação e construindo apoios para a candidatura”, aponta um senador aliado.
Presidente do Senado vai maturar a candidatura para não queimar largada
Se, de fato, se viabilizar, uma potencial candidatura de Pacheco pelo PSD não deve surgir por agora. As análises feitas por desafetos e aliados do presidente do Senado é que ele aguardará os demais sinais dados pelos demais partidos de centro para evitar queimar a largada.
O entendimento no Congresso é de que, até 2022, diante da concentração partidária e da perspectiva de deserções, algumas pré-candidaturas hoje postas vão “morrer” no meio do caminho. Assim, Pacheco entraria mais a frente, após a prevista debandada.
A própria possível filiação de Pacheco ao PSD faz parte de um movimento estratégico. A lógica analisada nos bastidores é esperar o DEM lançar a prevista candidatura do ex-ministro e ex-deputado Luiz Henrique Mandetta (MS). Seria a “senha” para deixar a legenda e aceitar o convite de Kassab.
O líder do PSD, Nelsinho Trad, explica que, de fato, uma potencial filiação de Pacheco não acontecerá a curto prazo. “Essa ideia tem que ser amadurecida, tem que ser bem conduzida com tranquilidade, até porque uma mexida como essa requer, realmente, muita análise, muita reflexão, e o presidente Pacheco é uma pessoa tranquila, serena, não é de rompantes, de atitudes rápidas e intempestivas”, diz.
Pacheco tem um perfil de sempre moderar e ponderar suas decisões, ressalta Trad. “Na conversa que tivemos, ele deixou evidente que fica muito satisfeito [com o convite], mas vai aguardar mais algum tempo para ver como vai se delinear. Até dentro do partido dele você observa algumas baixas que estão acontecendo”, afirma o senador, em referência à expulsão de Maia.
“Uma expulsão de um quadro nacional como o [ex-]presidente Rodrigo Maia abala o partido, ele acaba levando outras pessoas junto, então, é algo que pode incomodar quem está nesse ambiente”, analisa Trad. E apesar de todos os esforços, o senador entende que trazer Pacheco para o partido não será simples. “Pode ser difícil a sua vinda para o PSD, mas a gente não deixou de conversar com ele, de fazer gestos para que ocupe o espaço dentro do nosso partido”, sustenta.
O que JK tem a ver com o desejo de Kassab em filiar Rodrigo Pacheco
Apesar dos desafios e potenciais variáveis políticas que envolvem a filiação de Pacheco ao PSD, Kassab vai continuar pessoalmente empenhado nessa missão. É histórica a obsessão do presidente nacional da legenda em associar o partido à imagem de JK.
Em 2011, quando criou o PSD, Kassab, então prefeito de São Paulo, registrou o domínio de internet www.jk.org.br. A ideia era que o nome do ex-presidente da República, responsável por ter construído Brasília, fosse usado para batizar a fundação ligada à sigla. A iniciativa foi contestada judicialmente pela família de JK.
Acontece que, passados 10 anos, Kassab vislumbra na ascensão política de Pacheco a oportunidade de lançá-lo como o “novo JK”. Em sua primeira eleição, Pacheco foi eleito deputado federal por Minas Gerais na última legislatura. Em 2016, se candidatou a prefeito por Belo Horizonte e foi o terceiro mais votado. Em 2018, foi o senador mais votado do estado.
Mineiro, Kubitschek foi filiado ao extinto PSD, que existiu entre 1945 e 1965. Antes de assumir a Presidência da Presidência, foi prefeito de Belo Horizonte, deputado federal por Minas Gerais e governador do estado. Depois de governar o Brasil, entre 1956 e 1960, foi senador por Goiás.
Além de Kassab, Pacheco também se influencia em JK. “O presidente mineiro Rodrigo Pacheco tem na pessoa do JK um verdadeiro ídolo, uma pessoa que se inspira. Numa solenidade, em todo discurso ele cita uma frase do JK, é uma pessoa inspiradora para ele”, reconhece o senador Nelsinho Trad.
Em seu discurso quando foi eleito, Pacheco citou JK em duas oportunidades. No primeiro discurso do ano legislativo, chamou Kubitschek de “o maior político mineiro, quiçá de toda a história do Brasil”. “Creio na vitória final e inexorável do Brasil, como nação”, disse Pacheco, parafraseando uma fala do ex-presidente.
Em caso de candidatura de Pacheco, como ficaria a relação com Bolsonaro
Uma possível candidatura do presidente do Senado mudaria, naturalmente, a relação entre Pacheco e Bolsonaro. Eleito presidente da Casa com o apoio do governo federal, aliados do demista reconhecem que a tendência seria haver um distanciamento político, mas não uma ruptura institucional.
“Quando o Pacheco tiver que se desincompatibilizar [do governo], ele o fará. Mas não será imediato, nem precisa ser. Irá quando regimentalmente tiver que abandonar. Ele e o Kassab são habilidosos o suficiente para fazer esse movimento”, aposta um aliado do Senado.
A tendência na relação é que Pacheco adote uma postura de independência e neutralidade ao governo que não signifique uma oposição pura e simples. Caso as reformas econômicas apoiadas pelo governo sejam aprovadas pela Câmara ainda este ano, é esperado que ele daria prosseguimento às matérias no Senado.
O mesmo vale até para o voto impresso auditável, uma pauta histórica defendida por Bolsonaro. Pacheco tem se mostrado favorável ao debate e sugeriu defesa à matéria, que tramita na Câmara. “Até para dissiparmos qualquer tipo de dúvida em relação à higidez do processo eleitoral brasileira”, disse, em entrevista ao site Jota.
O cientista político e especialista em política eleitoral David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), avalia que dificilmente Pacheco rompe com o governo ainda este ano. “A candidatura dele representaria uma ruptura com Bolsonaro, mas acho que, provavelmente, isso ocorreria só no primeiro semestre de 2022”, analisa.
Uma possível candidatura de Pacheco, no entender de Fleischer, teria potencial de aglutinar forças do centro político, mas o especialista prega cautela. “Kassab sabe o que faz, é uma possibilidade, mas tem que ver como se portarão outras terceiras vias. Vamos ter que esperar para ver”, avalia.