Greve no transporte público paralisa Teresina; Setut denuncia descumprimento de decisão judicial
A greve dos motoristas e cobradores do transporte público de Teresina, deflagrada na manhã desta segunda-feira (12), já afeta a rotina de milhares de usuários e mobiliza autoridades e entidades envolvidas no setor. O Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (Setut) acusa os trabalhadores de descumprirem uma decisão judicial que determina a manutenção parcial da frota em circulação.
Na última sexta-feira (9), a desembargadora Liana Ferraz de Carvalho determinou que 80% da frota operasse nos horários de pico — das 6h às 9h e das 17h às 20h — e 40% nos demais períodos. O não cumprimento da medida implica multa diária de R$ 50 mil. No entanto, segundo a advogada do Setut, Nayara Moraes, a ordem judicial não está sendo respeitada.
“No horário entre pico, deveria estar circulando em torno de 100 a 110 veículos. E, na observação do GPS, não há nem 30 veículos circulando. Então, há um descumprimento. Vamos informar a situação à Justiça do Trabalho, e tudo está sendo comprovado por meio dos GPS”, informou.
Apesar de reconhecer o direito dos trabalhadores à greve, Nayara destaca que as reivindicações da categoria são desproporcionais à atual realidade do sistema. “O sistema teve uma queda superior a 70% no número de passageiros. Hoje, quem circula utiliza a gratuidade, que precisa ser subsidiada pelo Estado e pela Prefeitura de Teresina”, afirmou. O Setut propôs prorrogar a atual convenção coletiva por dois anos, mantendo os benefícios de ticket alimentação e plano de saúde sem alterações.
Para reduzir os impactos da paralisação, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) iniciou o cadastramento de veículos alternativos para atuar temporariamente no transporte público. Mais de 50 veículos já foram cadastrados.
O diretor de transporte público da Strans, Adriano Barreto, afirmou que está acompanhando o cumprimento da decisão judicial. “Durante a manhã, não constatamos o cumprimento da medida. Apuramos o número de ônibus que estão rodando; pela manhã, contabilizamos 18, mas esse número ainda não é oficial. Fizemos o cadastramento de veículos emergenciais e estamos com uma ordem de serviço provisória para mitigar os efeitos da greve”, disse.
Os veículos emergenciais passaram por vistoria e estão devidamente identificados. No entanto, a passagem nesses transportes deve ser paga integralmente, no valor de R$ 4,00, já que não contam com sistema eletrônico de bilhetagem — o que inviabiliza gratuidade, meia passagem ou integração.
Reivindicações da categoria
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários do Piauí (Sintetro), a greve foi motivada pela ausência de diálogo com os empresários e pelo congelamento salarial que já dura três anos.
“Em assembleia, os trabalhadores decidiram iniciar a greve por tempo indeterminado, diante da falta de resposta por parte da patronal”, afirmou o presidente do Sintetro, Antônio Cardoso.
Atualmente, os motoristas recebem R$ 2.267,00 por jornada de 7h20 corridas, enquanto os cobradores têm salário de R$ 1.518,00, equivalente ao mínimo nacional. A categoria reivindica reajuste de 15% nos salários, ticket alimentação de R$ 900,00 e aumento de R$ 150,00 no valor do plano de saúde.
Além disso, o sindicato denuncia pressões e condições psicológicas adversas enfrentadas pelos trabalhadores. “Alguns motoristas vêm sofrendo descontos abusivos. Tem casos de profissionais pagando até R$ 8 mil por danos em acidentes, com descontos que ultrapassam 40% do salário. E tudo isso sob pressão para cumprir horários cada vez mais apertados, enquanto a população envelhecida exige mais tempo no embarque”, relatou Cardoso.
A greve continua por tempo indeterminado, enquanto ambas as partes mantêm o impasse.