Semam promove reflexão sobre a luta da mulher para viver em paz
Para marcar o Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização pelo fim da violência contra a mulher, a Prefeitura de Teresina, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam), promoveu na sexta (25) uma palestra com a psicóloga Leilanny Lopes Cavalcante, que falou aos servidores da secretaria em um encontro no coreto do Parque da Cidade, das sete áreas verdes da Prefeitura no perímetro urbano sob administração da Semam. O tema foi violência de gênero e a fala da especialista, que é técnica do Núcleo de Articulação e Transversalidade da Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres, foi ouvida com atenção também por muitos homens na plateia.
O secretário de Meio Ambiente Luis André, falou sobre a importância do evento. “Um encontro destes é da maior relevância, pois nunca é demais lembrar da igualdade que a mulher brasileira e piauiense luta duramente para manter na sociedade”, disse ele, que não assistiu à palestra por questão de agenda, mas fez questão de deixar o gabinete para cumprimentar Leilanny, os colegas de trabalho e a equipe do Núcleo de Educação Ambiental (NEA) da Semam, idealizadora do evento. “É o tipo de interação que precisamos em nossa secretaria, um momento de reflexão que não deixa de ser também uma oportunidade de confraternização entre departamentos”, concluiu Luis André, autor do projeto de lei 5.264/19, que instituiu o Dia Municipal da Conselheira dos Direitos da Mulher, comemorado em Teresina desde 2019.
“Fiquei surpresa com a quantidade de homens presentes, o que é um excelente sinal”, afirmou Leilanny, que já atuou na área de Política de Assistência Social em Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e abrigo institucional para crianças e está na Secretaria da Mulher desde 2021. “A violência contra a mulher é variada, nem sempre é a física, podendo ocorrer em diferentes meios, inclusive no trabalho”, continuou a psicóloga, lembrando os cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher segundo a Lei Maria da Penha: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.
Uma das duas mulheres aniversariantes do dia presentes à palestra, Cássia Cristina, pediu a palavra e fez importante complemento, reforçando o poder que tem o trabalho de conscientização sobre os direitos femininos. “As campanhas são importantes, pois para muitas mulheres, além do sentimento de vergonha que a sociedade criou em torno da denúncia, e que ainda existe, é confuso entender, por exemplo, que o mesmo homem que a maltrata é o pai dos seus filhos e o marido a quem ainda ama”, lembrou a funcionária da Semam.
“É mesmo bastante complexo. Por isso mesmo, faz toda a diferença o atendimento especializado das Delegacias da Mulher e, para as mulheres com menos recursos, e locais como a Casa da Mulher Brasileira, que está prestes a ser inaugurado aqui mesmo, na zona Norte”, concordou Leilanny, referindo-se à obra da Prefeitura em parceria com o Governo Federal orçada em 5,4 milhões de reais que vai amparar mulheres em situação de violência doméstica com procuradoria, delegacia, promotoria, abrigamento e atendimento psicossocial.
A iniciativa da Semam com a palestra de Leilanny — que levou material informativo da Secretaria da Mulher para distribuição aos presentes –, acontece em um momento alarmante para a sociedade: o número recorde de feminicídios de 2022 colocou o Brasil na quinta posição do ranking mundial de assassinatos de mulheres, com 1 410 casos de feminicídio. Em média, uma mulher foi assassinada a cada 6 horas no País por ser mulher. Os números são do Monitor da Violência, do portal G1 e do Núcleo de Estudos da Violência da USP. É o maior registro desde que a Lei do Feminicídio entrou em vigor, em 2015, listando este crime como hediondo, com penas que vão de 12 a 30 anos de reclusão. O Piauí registrou 75 casos de violência contra a mulher entre o mês de agosto de 2021 e janeiro de 2022, segundo levantamento da Rede de Observatórios d e Segurança. O número indica que, em média, a cada 72 horas, uma mulher é violentada no Estado.
“Evoluímos muito desde a época de casos como o de Ângela Diniz, que, por sinal, foi um divisor de águas no movimento feminista brasileiro e no início de uma mudança no sistema judiciário”, atestou Leilanny, lembrando a noite de 30 de dezembro de 1976, quando a socialite Ângela Diniz rompeu com Doca Street, seu namorado há poucos meses, e o expulsou da casa dela, em Cabo Frio (RJ). Doca a matou com quatro tiros e alegou legítima defesa da honra. A culpa de Ângela, citando a defesa dele: “ser uma ‘mulher fatal’, capaz de levar qualquer homem à loucura.” Doca foi condenado a dois anos de prisão, mas cumpriu apenas parte da pena por ser réu primário. A sentença branda mobilizou o movimento feminista. Um segundo julgamento foi convocado, e ele foi condenado a 15 anos de prisão, cumprindo três no regime fechado, dois no semiaberto e dez em liberdade. E refez a vida. Morreu em 2020, aos 86 anos, deixando três filhos,10 netos e uma bisneta.