Suzane Von Richthofen faz concurso para ingressar no Tribunal de Justiça de SP
A estudante de Direito Suzane Louise Magnani Muniz, ex-Richthofen, de 41 anos, quer trabalhar no Poder Judiciário de SP. Condenada a 40 anos de prisão por ter matado os próprios pais em 2002, Richtofen fez a prova de um concurso no último domingo (08) para tentar entrar no quadro de servidores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Como tem apenas o ensino médio completo, ela se inscreveu para o cargo de escrevente, cujo salário mensal é de R$ 6.043.
De acordo com o edital 01/2024 do TJSP, as funções do escrevente judiciário incluem organizar os serviços administrativos e técnicos no fórum, acompanhar o andamento de processos e realizar atendimento ao público. O cargo também envolve a elaboração e conferência de documentos, controle do material de expediente e a atualização constante sobre a legislação e normas internas. No momento da inscrição, Suzane pediu para ser lotada em Bragança Paulista, caso seja aprovada.
Dessa forma, como funcionária pública, ela poderia consultar e até movimentar seu processo de execução penal a qualquer momento do expediente.
Relembre o crime
Suzane von Richthofen foi presa, em 2002, pelo assassinato dos pais e deixou a prisão em janeiro deste ano. Na época, a jovem foi condenada a 39 anos de prisão. Suzane e os Cravinhos, dias antes do crime, fizeram um teste de barulho causado pelos disparos de uma arma de fogo e com isso descartaram a ideia de utilizar uma. Na tarde de 30 de outubro de 2002, Suzane e Daniel Cravinhos repassaram pela última vez os planos do assassinato dos pais da moça. Conversaram com Cristian, que morava na casa da avó, o qual, ainda relutante, não deu a certeza de que participaria nos eventos que se seguiriam à noite.
Daniel pediu que o irmão pensasse a respeito e, se resolvesse ajudá-los, que os esperasse em uma dada rua, próxima a um cyber café aonde levariam Andreas. Naquela noite, o irmão de Suzane, Andreas, na ocasião com quinze anos, foi levado pela garota e pelo namorado dela para o referido cyber café. Ele foi seduzido pela ideia de que no aniversário de namoro da irmã a comemoração do casal seria em um motel e a dele seria na LAN house, e que Suzane iria convencer seus pais a deixar o irmão faltar à escola no dia seguinte.
Cristian já estava no cyber café. Ele chegou ao local às 22h12 e saiu às 22h50, para que Andreas não o visse. Por volta das 23h20, Suzane e Daniel encontraram-se com Cristian perto do local. Os três seguiram para a mansão dos von Richthofen no Volkswagen Gol da estudante. Dias antes da noite do assassinato, Suzane havia meticulosamente desligado o alarme e as câmeras de vigilância da casa, de modo que nenhuma imagem do trio chegando fosse capturada.
Por volta da meia-noite, eles estacionaram o carro na garagem. Segundo a polícia, no carro já estavam as barras de ferro, ocas, que foram utilizadas no assassinato. Os rapazes vestiram blusas e meias-calças para evitar que caíssem pelos pela casa, material que poderia ser usado pela polícia para provar a autoria do crime. Suzane abriu o portão, subiu as escadas e acendeu a luz do corredor, para que os irmãos tivessem visão do quarto do casal. Marísia e Manfred dormiam. A estudante separou sacos de lixo e luvas cirúrgicas, que eram utilizadas pela mãe, psiquiatra.
Os irmãos, armados com barras de ferro, entraram no quarto do casal. Daniel seguia em direção ao engenheiro Manfred, enquanto Cristian ia em direção a Marísia. Eles foram golpeados na cabeça.[48] Manfred faleceu na hora. Marísia, ao ser atacada, acordou e tentou se defender com as mãos e por isso teve três dedos fraturados. Cristian disse à polícia que bateu em Marísia por cinco vezes e colocou uma toalha em sua boca para que parasse de implorar para que os supostos “assassinos” não atacassem seus filhos, que, para ela, estavam dormindo. Ainda segundo o relato de Cristian, em determinando momento, enquanto agonizava, Marísia passou a emitir um som “parecido com um ronco”. Para tentar silenciá-la, Cristian Cravinhos então pegou uma toalha no banheiro do casal e empurrou-a pela garganta da psiquiatra, o que quebrou um dos ossos do pescoço de Marísia. Depois de confirmar que os dois estavam mortos, Daniel colocou uma arma pertencente a Manfred perto de seu braço, ao lado da cama, e cobriu o rosto dele com uma toalha. O corpo de Marísia foi envolvido em um saco plástico de lixo, que havia sido deixado por Suzane na escada para que os irmãos depositassem as barras de ferro e suas roupas manchadas com o sangue dos pais.
“Chegamos em casa, eu entrei e fui até o quarto dos meus pais. Eles estavam dormindo. Aí, eu desci, acendi a luz e falei que eles podiam ir. Fiquei sentada no sofá, com a mão no ouvido. Eu não queria mais que meus pais morressem. Mas aí eu percebi que não tinha mais o que fazer, que já era muito tarde”, confessou Suzane no depoimento após ser detida.
Não há certeza sobre a posição de Suzane na casa enquanto o crime ocorria e se, depois, ela viu os corpos dos pais. De acordo com a reconstituição do crime, ela ficou no térreo, onde aproveitou para roubar o dinheiro em espécie que havia na casa, guardado dentro de uma pasta de couro com código. Suzane abriu a maleta, pois sabia o segredo, mas Daniel depois cortou a pasta com uma faca para forjar o roubo de 8 000 reais, 6 000 euros e 5 000 dólares. Eles ainda abriram um cofre do casal, onde estavam joias e um revólver, localizado no quarto. Os acusados espalharam as joias pelo chão e deixaram o revólver, intacto, ao lado do corpo do engenheiro. Os bastões ensanguentados foram lavados na piscina e tudo que foi usado no crime foi colocado dentro de sacos de lixo, tendo os três inclusive trocado de roupa.